APH

Imobilização e Transporte de Pacientes

Imobilização e Transporte de Pacientes

A imobilização e o transporte de pacientes traumatizados são etapas críticas no atendimento pré-hospitalar (APH). A escolha do método e dos dispositivos utilizados deve levar em consideração a biomecânica do trauma, a condição clínica do paciente e a segurança tanto da vítima quanto dos socorristas.

Dois dos principais equipamentos utilizados nesses casos são a prancha rígida e a maca retrátil, que oferecem suporte e estabilidade para minimizar os riscos de agravamento das lesões. A correta utilização desses dispositivos exige conhecimento técnico e aplicação de princípios ergonômicos, garantindo que o paciente seja transportado com o mínimo de movimentação e que os socorristas preservem sua integridade física.

Princípios da Imobilização e Transporte

A prancha rígida é um dos equipamentos mais comuns no APH e é utilizada para a imobilização de pacientes que sofreram traumas significativos, principalmente quando há suspeita de lesão na coluna vertebral. No entanto, seu uso deve ser criterioso, pois a permanência prolongada na prancha pode causar desconforto e lesões secundárias.

Os principais princípios da imobilização na prancha rígida incluem:

  • Estabilização cervical prévia: Antes da movimentação, deve-se garantir a imobilização do segmento cervical com um colar cervical adequado, evitando flexão, extensão ou rotação da coluna.
  • Movimentação mínima: Sempre que possível, a técnica do rolamento em bloco deve ser aplicada com pelo menos três a quatro socorristas, garantindo que a coluna do paciente permaneça alinhada durante a transferência para a prancha.
  • Uso adequado de fixações: O paciente deve ser fixado à prancha com cintas de imobilização e o uso de imobilizadores laterais para a cabeça, reduzindo deslocamentos desnecessários durante o transporte.
  • Avaliação contínua: Após a imobilização, a perfusão e a sensibilidade distal do paciente devem ser verificadas para garantir que a fixação não esteja comprometendo a circulação ou a função neurológica.
  • Tempo reduzido na prancha: Sempre que possível, a remoção do paciente da prancha rígida deve ser realizada assim que ele for transferido para um ambiente hospitalar adequado.

A prancha rígida não deve ser utilizada indiscriminadamente para qualquer vítima de trauma. Em muitos casos, sua indicação deve ser baseada em protocolos estabelecidos, como o NEXUS Criteria e a Canadian C-Spine Rule, que ajudam a determinar a necessidade real da imobilização espinhal.

Preferências no Uso da Prancha Rígida

Apesar de ser um equipamento essencial no APH, a prancha rígida tem suas limitações e desvantagens. O desconforto prolongado e a possibilidade de lesões por pressão tornam seu uso prolongado desaconselhável. Assim, algumas preferências podem ser aplicadas no seu uso:

  • Uso combinado com colchão de vácuo: Em pacientes com múltiplas lesões ou politraumatizados, o colchão de vácuo pode ser uma melhor opção, pois oferece imobilização mais confortável e anatômica.
  • Transferência para maca o mais rápido possível: A imobilização na prancha deve ser transitória, e o paciente deve ser transferido assim que houver segurança para tal.
  • Priorizar segurança e conforto: O uso de acolchoamento adicional ou de lençóis dobrados sob proeminências ósseas pode minimizar o risco de lesões por pressão.
  • Evitar imobilização desnecessária: Em pacientes conscientes, sem sinais de trauma significativo e sem queixas de dor na coluna, a imobilização na prancha pode ser evitada.

A decisão de usar ou não a prancha rígida deve ser individualizada e baseada na avaliação primária do paciente.

Ergonomia e Técnicas para Levantamento e Transporte com a Maca Retrátil

A maca retrátil é amplamente utilizada no APH para o transporte seguro de pacientes que não necessitam de imobilização espinhal rígida, mas que ainda assim precisam de suporte durante o deslocamento. Esse equipamento permite uma abordagem mais ergonômica, reduzindo a sobrecarga sobre os socorristas e facilitando o carregamento da vítima para dentro da ambulância.

 

Técnicas Ergonômicas para o Socorrista

O transporte de pacientes, especialmente em emergências, pode representar um risco significativo de lesões para os socorristas, devido ao peso elevado e às posturas inadequadas adotadas durante o levantamento. Para evitar problemas musculoesqueléticos, algumas diretrizes devem ser seguidas:

  • Manter a coluna alinhada: Ao levantar a maca ou movimentar o paciente, a força deve ser gerada pelas pernas e não pelas costas. Dobrar os joelhos e evitar flexão excessiva do tronco é essencial.
  • Usar técnicas de levantamento seguro: Sempre que possível, realizar o levantamento em sincronia com um parceiro, garantindo que o peso seja distribuído igualmente.
  • Evitar rotações da coluna: O movimento de levantamento deve ser feito com o corpo inteiro, e não com rotações bruscas do tronco.
  • Ajustar a altura da maca: Antes de transferir o paciente para a ambulância, a maca deve ser elevada para reduzir o esforço ao colocar ou retirar o paciente.
  • Deslocar a maca com as rodas no solo sempre que possível: Carregar a maca suspensa deve ser evitado, priorizando a movimentação com o mínimo de carga sobre os socorristas.

O uso correto da maca retrátil facilita o transporte e reduz a fadiga dos profissionais, garantindo um atendimento mais eficiente e seguro.

Biomecânica do Trauma e Considerações no Transporte

A biomecânica do trauma está diretamente relacionada à forma como a energia do impacto afeta o corpo humano e como isso deve influenciar a escolha da técnica de transporte e imobilização. A movimentação inadequada de um paciente traumatizado pode agravar lesões internas, fraturas instáveis e lesões neurológicas.

Impacto da Biomecânica na Escolha do Método de Transporte

  • Traumas de alta energia (quedas, acidentes automobilísticos, impactos violentos): Nesses casos, a possibilidade de lesão na coluna vertebral é maior, tornando essencial o uso da prancha rígida e do colar cervical até que a estabilização completa seja realizada.
  • Traumas de baixa energia (quedas de própria altura, contusões leves): Se não houver suspeita de lesão vertebral, o transporte pode ser realizado diretamente na maca retrátil, minimizando o desconforto do paciente.
  • Suspeita de lesão pélvica: A movimentação de um paciente com fratura pélvica deve ser extremamente cuidadosa. O uso de cintas pélvicas associadas à prancha rígida pode ser a melhor opção nesses casos.
  • Pacientes inconscientes ou instáveis: Devem ser movimentados com a menor manipulação possível, priorizando técnicas como rolamento em bloco e uso de dispositivos que minimizem deslocamentos desnecessários.

O conhecimento da biomecânica do trauma ajuda na escolha do melhor método de transporte, reduzindo o risco de agravar lesões existentes.

Conclusão

A escolha entre prancha rígida e maca retrátil deve ser baseada na avaliação inicial do paciente e no mecanismo do trauma.

  • A prancha rígida deve ser usada com critérios bem definidos, pois seu uso indiscriminado pode causar complicações desnecessárias.
  • A maca retrátil é a melhor opção para a maioria dos transportes, pois oferece segurança e ergonomia para os socorristas.
  • A biomecânica do trauma deve sempre ser considerada na escolha do método de transporte para evitar lesões secundárias.

O domínio dessas técnicas garante que cada paciente seja transportado com segurança e eficiência, promovendo um atendimento pré-hospitalar de alta qualidade.

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