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Imobilização de coluna

Imobilização de Coluna

A imobilização de coluna é uma das intervenções mais discutidas no atendimento pré-hospitalar (APH). Por muitos anos, a prática foi amplamente utilizada em qualquer paciente com suspeita de trauma espinhal, mas evidências recentes mostram que a imobilização não deve ser aplicada de maneira indiscriminada, pois pode gerar complicações desnecessárias.

Dessa forma, a decisão de como imobilizar um paciente deve ser pautada em princípios técnicos sólidos e na preferência pela melhor abordagem para cada situação específica. A escolha da técnica deve considerar o estado clínico do paciente, o ambiente onde ocorreu o acidente, os materiais disponíveis, o risco para a equipe de resgate e os procedimentos operacionais da instituição.

O conhecimento desses fatores permite que o profissional de APH tome decisões fundamentadas, garantindo um atendimento seguro e eficaz.

Princípios da Imobilização de Coluna

A coluna vertebral é uma estrutura essencial que protege a medula espinhal e possibilita a mobilidade do corpo. Em casos de trauma, qualquer movimentação inadequada pode agravar lesões preexistentes, causando danos irreversíveis, como déficits neurológicos permanentes.

Portanto, o primeiro princípio na imobilização de coluna é a estabilização e a minimização de movimentos, garantindo que o paciente seja manejado com o máximo de segurança.

Outros princípios fundamentais incluem:

  • Avaliação criteriosa: Nem todo trauma requer imobilização rígida. Existem protocolos, como o NEXUS Criteria e a Canadian C-Spine Rule, que ajudam a determinar se o paciente pode ser movimentado sem necessidade de imobilização total.
  • Redução de riscos secundários: A imobilização prolongada pode causar dor, úlceras de pressão, dificuldades respiratórias e restrição de fluxo sanguíneo. Assim, sempre que possível, o paciente deve ser removido da prancha rígida o mais rápido possível, principalmente em ambientes hospitalares.
  • Técnicas adequadas de movimentação: O rolamento em bloco e o uso de dispositivos de extração minimizam a movimentação da coluna e reduzem riscos.
  • Imobilização proporcional ao mecanismo de trauma: Traumas de alta energia, como acidentes automobilísticos e quedas de altura, têm maior risco de lesão espinhal. Em contrapartida, traumas de baixa energia, como quedas da própria altura em idosos, devem ser avaliados com mais cautela antes de indicar a imobilização total.

Preferências na Escolha do Método de Imobilização

A escolha do melhor método de imobilização deve ser baseada no estado do paciente e nas condições do ambiente. Nenhum protocolo é absoluto, e as preferências podem variar conforme os seguintes fatores:

1. Estado do Paciente

A avaliação inicial deve identificar se o paciente apresenta:

  • Dor na coluna cervical ou torácica;
  • Déficits neurológicos (parestesia, perda de força ou sensibilidade);
  • Alteração do nível de consciência;
  • Sinais de choque ou instabilidade hemodinâmica.

Se o paciente não apresenta dor, déficit neurológico ou sinais de trauma significativo, a imobilização total pode ser evitada. Nesses casos, um transporte cuidadoso sem restrição excessiva de movimento pode ser suficiente.

Ambiente do Acidente

O local do trauma influencia diretamente na abordagem escolhida. Ambientes de difícil acesso, como montanhas, florestas, veículos acidentados ou espaços confinados, podem demandar métodos alternativos de imobilização e extração.

  • Em espaços confinados, como veículos ou estruturas colapsadas, o uso da prancha curta ou outro imobilizador dorsal pode facilitar a remoção com menor mobilização da coluna.
  • Em terrenos acidentados, colchões de vácuo oferecem uma melhor adaptação ao corpo, promovendo maior conforto e estabilidade.
  • Se o paciente estiver em áreas de risco de desmoronamento ou incêndio, a imobilização deve ser rápida para garantir a segurança da equipe e da vítima.

Materiais Disponíveis

Nem sempre o cenário permite a aplicação dos protocolos ideais. Em situações com recursos limitados, o profissional deve adaptar os métodos disponíveis sem comprometer a segurança do paciente.

  • Se não houver colar cervical, um rolo de toalhas ou roupas dobradas pode ser posicionado ao redor do pescoço e fixado com fitas adesivas.
  • Se não houver prancha rígida, um lençol dobrado pode ser utilizado como alternativa para movimentar o paciente de forma alinhada.
  • Em locais sem acesso imediato a cintas de imobilização, o uso de faixas improvisadas com tiras de tecido pode fornecer contenção temporária até a chegada de apoio.

Risco para a Equipe de Resgate

A segurança dos socorristas é tão importante quanto a do paciente. Durante a imobilização e remoção, alguns riscos devem ser avaliados:

  • Peso e tamanho do paciente: O levantamento e transporte de vítimas devem seguir protocolos de ergonomia para evitar lesões na equipe. Sempre que possível, deve-se usar métodos que reduzam a carga individual, como o uso de macas retráteis ou equipamentos de içamento.
  • Perigos ambientais: Em acidentes em rodovias, o resgate deve ser realizado com cautela para evitar exposição ao tráfego. Em incêndios, o resgate deve ser ágil para minimizar a inalação de fumaça.
  • Movimentação sincronizada: Durante o rolamento e transferência para a prancha, a equipe deve estar treinada para agir de forma coordenada, garantindo que o alinhamento da coluna seja preservado.

Procedimentos Operacionais da Instituição

Cada instituição pode ter protocolos específicos para a imobilização de coluna. É essencial que os socorristas estejam familiarizados com esses procedimentos para garantir um atendimento padronizado e seguro.

  • Algumas unidades adotam restrição cervical seletiva, utilizando a imobilização apenas em pacientes com critérios bem definidos.
  • Outras instituições seguem o protocolo tradicional de imobilização total para qualquer suspeita de trauma espinhal.
  • Algumas equipes preferem o uso combinado da prancha rígida e do colchão de vácuo, equilibrando segurança e conforto.

O alinhamento com os protocolos locais e diretrizes médicas deve ser sempre seguido, garantindo que a decisão tomada esteja respaldada por evidências e boas práticas.

Conclusão

A imobilização da coluna não deve ser uma prática automática, mas sim uma decisão estratégica baseada em avaliação clínica, contexto ambiental e recursos disponíveis.

  • Princípios como estabilização, avaliação cuidadosa e minimização de riscos são fundamentais para garantir a segurança do paciente.
  • As preferências no método de imobilização devem considerar o estado do paciente, o ambiente do acidente, os materiais disponíveis, os riscos para a equipe e os protocolos institucionais.
  • Nem todo paciente com trauma precisa de imobilização total, e o uso excessivo da prancha rígida deve ser evitado sempre que possível.

O conhecimento técnico e a experiência dos profissionais de APH são essenciais para determinar a melhor abordagem para cada caso, garantindo um atendimento eficiente, seguro e baseado em boas práticas clínicas.

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