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Dispositivos para Manutenção das Vias Aéreas

Dispositivos Essenciais para a Manutenção das Vias Aéreas

No atendimento pré-hospitalar, garantir a permeabilidade das vias aéreas é uma das prioridades essenciais para a sobrevida do paciente. Em situações de rebaixamento do nível de consciência, traumas cranioencefálicos ou obstrução das vias aéreas superiores, dois dispositivos se destacam na manutenção da ventilação eficaz e na prevenção de complicações: a Cânula Orofaríngea de Guedel e o Colar Cervical Lubo. Cada um desempenha um papel fundamental, tanto na proteção das vias aéreas quanto na estabilização da coluna cervical, prevenindo agravamentos em pacientes traumatizados.

Indicações da Cânula de Guedel

A Cânula Orofaríngea de Guedel é um dispositivo simples, porém extremamente eficaz, na prevenção da obstrução da via aérea superior causada pelo colapso da língua em pacientes com rebaixamento de consciência. Em indivíduos inconscientes, a perda do tônus muscular pode fazer com que a língua deslize para trás, bloqueando a passagem de ar e causando hipóxia. A inserção da cânula de Guedel previne essa obstrução, permitindo uma ventilação adequada e facilitando a administração de oxigênio.

Indicações da Cânula de Guedel

  • Pacientes inconscientes (Escala de Coma de Glasgow ≤ 8) sem reflexo de vômito presente.
  • Ventilação assistida com bolsa-válvula-máscara (ambu) em pacientes que necessitam de suporte ventilatório.
  • Manutenção da via aérea pérvia em pacientes em parada cardiorrespiratória.
  • Facilitação da aspiração de secreções, permitindo um acesso desobstruído à cavidade oral.

Contraindicações da Cânula de Guedel

  • Pacientes conscientes ou sem rebaixamento significativo da consciência, pois a presença da cânula pode provocar vômito e levar à aspiração.
  • Reflexo de vômito preservado, o que pode causar engasgo e desconforto.
  • Lesões orais ou traumas faciais graves, nos quais a introdução da cânula pode agravar hemorragias ou lesões estruturais.

Por outro lado, as ocorrências com múltiplas vítimas (AMV) apresentam um desafio maior. Nesses casos, o número de feridos ou de pessoas envolvidas excede a capacidade habitual dos recursos disponíveis localmente, mas ainda pode ser gerenciado sem uma mobilização massiva. Exemplos incluem acidentes com ônibus, colisões em série ou incêndios em prédios residenciais. Nessas situações, é necessário realizar uma triagem rápida para priorizar o atendimento às vítimas mais graves. A coordenação entre diferentes equipes torna-se crucial, assim como o reforço de recursos provenientes de localidades próximas. A gestão dessas ocorrências demanda decisões rápidas e precisas por parte dos líderes, mas, com recursos adicionais e boa comunicação, é possível manter o controle e garantir o atendimento adequado a todos.

Escolha do Tamanho Adequado

Para garantir a eficácia da cânula, a escolha do tamanho correto é essencial. Uma cânula muito pequena pode não evitar a obstrução da língua, enquanto uma muito grande pode causar trauma nas vias aéreas. O tamanho ideal é medido da seguinte forma:

  • Posicionar a extremidade distal da cânula no lóbulo da orelha do paciente.
  • A outra extremidade deve alcançar a comissura labial.

Técnica de Inserção da Cânula de Guedel

  • Avaliação: Certifique-se de que o paciente não tem reflexo de vômito e está inconsciente.
  • Posicionamento: O paciente deve estar em decúbito dorsal, com a cabeça neutra ou levemente estendida (exceto em casos de suspeita de lesão cervical).
  • Inserção Inicial: Introduzir a cânula com a ponta curvada voltada para cima.
  • Rotação: Após atingir a orofaringe, girar a cânula 180° para que a curva fique na posição anatômica correta.
  • Ajuste Final: Certificar-se de que a cânula está bem posicionada, sem causar obstrução.

É essencial reconhecer que cada tipo de ocorrência – seja ela comum, com múltiplas vítimas ou um desastre – requer uma abordagem de gestão específica. O sucesso reside na capacidade de adaptação das equipes de resposta e na eficiência da alocação de recursos. Ao identificar corretamente o tipo de ocorrência, os serviços de emergência podem ajustar suas estratégias e intervenções, garantindo uma resposta eficaz e adequada à gravidade da situação.

Colar Cervical Lubo: Estabilização e Manutenção das Vias Aéreas

O Colar Cervical Lubo é um dispositivo inovador projetado para oferecer não apenas a estabilização da coluna cervical, mas também para garantir a manutenção de uma via aérea pérvia por meio de um mecanismo automático de Jaw Thrust. Desenvolvido pela Inovtec, uma empresa israelense, este colar elimina a necessidade de um socorrista manualmente manter a tração mandibular, permitindo que a equipe de atendimento tenha as mãos livres para outras intervenções críticas.

Diferente dos colares cervicais convencionais, que se concentram exclusivamente na imobilização cervical, o Colar Lubo combina proteção espinhal com uma abordagem ativa na gestão das vias aéreas, sendo especialmente útil em pacientes inconscientes.

Características e Diferenciais do Colar Cervical Lubo

  • Manobra de Jaw Thrust Mecânica: Realiza automaticamente a tração da mandíbula, deslocando-a anteriormente e liberando a via aérea.
  • Redução da Necessidade de Suporte Manual: O socorrista que normalmente realizaria a manobra de Jaw Thrust pode ser liberado para outras funções no atendimento.
  • Apoio na Estabilização da Coluna Cervical: Embora não seja tão rígido quanto um colar cervical tradicional, proporciona uma estabilização primária essencial para pacientes com suspeita de trauma.
  • Compatibilidade com Outros Dispositivos: Pode ser utilizado junto com a cânula de Guedel, ampliando a eficácia da manutenção da via aérea.

Indicações do Colar Cervical Lubo

  • Pacientes inconscientes que não conseguem manter uma via aérea pérvia por si próprios.
  • Casos de trauma em que há necessidade de estabilização cervical com comprometimento respiratório associado.
  • Situações onde o recurso humano é limitado, permitindo que o socorrista foque em outras etapas do atendimento.
  • Pacientes que necessitam de ventilação assistida, beneficiando-se de um suporte mecânico para manter a via aérea aberta.

Técnica de Aplicação do Colar Cervical Lubo

A colocação do Colar Cervical Lubo segue um processo similar ao de um colar cervical convencional, com alguns ajustes específicos para ativar a manobra de Jaw Thrust.

  1. Posicionamento do Paciente

    • Certifique-se de que o paciente está em decúbito dorsal, mantendo a estabilização manual da cabeça e coluna cervical antes da aplicação do colar.
    • Em casos de trauma, evitar movimentos desnecessários para não agravar possíveis lesões na medula espinhal.
  2. Ajuste Inicial do Colar

    • Posicionar o colar ao redor do pescoço do paciente, garantindo que a parte posterior esteja bem encaixada na base do crânio.
    • As abas laterais do colar devem ser alinhadas com a articulação temporomandibular (ATM), pois serão responsáveis pela realização da tração mandibular mecânica.
  3. Fixação do Colar

    • Ajustar a parte frontal do colar sob a mandíbula do paciente, garantindo que a base encaixe firmemente.
    • Fixar as tirantes de velcro ou sistema de ajuste próprio do colar, assegurando firmeza sem comprometer a respiração.
  4. Ativação da Manobra de Jaw Thrust

    • O diferencial do Colar Lubo está na ativação do mecanismo de tração mandibular mecânica.
    • Para isso, basta levantar as abas laterais do colar de forma simultânea, promovendo o avanço da mandíbula do paciente.
    • Esse deslocamento anterior da mandíbula ajuda a evitar a obstrução da via aérea pela língua, facilitando a passagem de ar.

Benefícios do Colar Cervical Lubo no Atendimento Pré-Hospitalar

O Colar Lubo traz benefícios importantes para o atendimento de emergência, especialmente em ambientes pré-hospitalares, onde a gestão de recursos humanos e tempo são cruciais. Seu uso permite:

  • Liberação de um socorrista que ficaria encarregado da manobra manual de Jaw Thrust.
  • Facilidade na intubação ou ventilação mecânica ao manter a via aérea aberta sem a necessidade de um operador dedicado.
  • Prevenção da hipoxemia em pacientes inconscientes antes da chegada ao hospital.
  • Aumento da segurança na estabilização cervical com um suporte adicional para a proteção da coluna.

Além disso, o Colar Lubo pode ser combinado com a cânula de Guedel para reforçar a manutenção da via aérea, proporcionando uma abordagem dupla: mecânica e anatômica, garantindo maior segurança para o paciente.

Conclusão

O Colar Cervical Lubo representa um avanço significativo na gestão das vias aéreas e na imobilização primária da coluna cervical no ambiente pré-hospitalar. Sua capacidade de realizar a manobra de Jaw Thrust de forma mecânica otimiza o atendimento emergencial, garantindo maior eficiência na ventilação de pacientes inconscientes e permitindo que a equipe de resgate tenha mais mobilidade para outras intervenções críticas.

Seu uso não substitui completamente um colar cervical tradicional em termos de imobilização rígida, mas oferece uma solução híbrida, que equilibra proteção espinhal e manutenção da ventilação.

Para profissionais de emergência, dominar o uso desse dispositivo é essencial para melhorar a resposta em atendimentos de alto risco, garantindo que cada paciente receba o suporte adequado desde os primeiros minutos do resgate.

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